Arquivos do Blog

Explicações para a origem dos seres humanos


Todas as sociedades, ao longo do tempo e em diferentes lugares, tentaram, e ainda tentam, explicar como os seres humanos apareceram no planeta Terra. Muitas dessas explicações estão relacionadas diretamente às religiões. Vejamos algumas delas:

A) CRIACIONISMO

Defende que a vida e toda a matéria existente são resultantes da ação direta de um Deus criador. A perspectiva criacionista, por exemplo, encontra-se presente no Judaísmo, no Islamismo e no Cristianismo. A versão cristã do criacionismo está no primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, palavra que significa origens. Os princípios básicos do Criacionismo são:

  • Deus criou toda matéria existente no Universo e chamou à existência os ancestrais dos seres vivos e dos seres humanos (Adão e Eva);
  • Deus realizou sua obra criadora em 6 dias de 24 horas. Essa criação deve ter ocorrido entre 6 a 10 mil anos atrás;
  • As formas de vida se modificam por meio de mutações que contribuem para adaptação;
  • A superfície global foi drasticamente alterada pelo dilúvio, extinguindo várias espécies de plantas e animais. Os que sobreviveram foi graças à arca de Noé;
  • Após o dilúvio, os seres vivos espalharam-se pela Terra. As mudanças devem-se à adaptação ao longo do tempo, inclusive a dos seres humanos;
  • Enquanto alguns grupos vivam como nômades, outros se sedentarizaram.

B) CRIAÇÃO NA NARRATIVA IORUBÁ

xango

Esse conjunto de crenças que inspirou o candomblé é baseado na vida em harmonia e em comunidade. Não há separação entre homens e animais, que inclusive agem como humanos. A solidariedade e a prosperidade vêm do trabalho no campo. Também é importante o culto à ancestralidade, por isso louva-se a continuidade da vida, por meio da figura feminina. Humanos e divindades são igualmente suscetíveis às incertezas (mais ou menos como na mitologia grega). Não há o “mal”, mas há consequências para as ações que não contribuem com o equilíbrio pessoal e do todo.

1. No princípio, Olorum, o ser supremo, governava o Orun, o céu. A Terra não era nada mais que uma imensidão de pântanos governada por Olokun, a grande mãe, guardiã da memória ancestral. Então, Obatalá, a divindade da criação, teve a ideia de colocar terra sólida sobre os pântanos

2. Instruído por Orunmila, divindade das profecias e do destino, Obatalá trabalhou quatro dias e construiu Aiyê, o nosso mundo, com montanhas, campos e vales. Para que o novo lugar tivesse vida, Olorun criou o Sol, enviou uma palmeira de dendê e fez chover, para que a árvore brotasse. Surgiram as florestas e os rios

3. Para povoar o lugar, Obatalá modelou os humanos no barro com a ajuda de Oduduá, com quem formou o casal propulsor da vida. Terminados os bonecos, colocaram neles o emi, o sopro da vida. A primeira cidade em que os humanos viveram se chamava Ifé. Obatalá voltou ao Orun e contou a novidade aos òrìsà

4. Os òrìsà (ou orixás) são seres divinos que personificam os elementos da natureza e são indispensáveis ao equilíbrio e à continuidade da vida. Eles foram viver com os humanos, e Olorum os orientou: só haveria harmonia se os orixás ouvissem os humanos e os orientassem – eles seriam seus protegidos

5. A harmonia em Ifé ficou monótona, e as pessoas passaram a desejar casas maiores e colheitas mais férteis. Pediram a Olorum, que alertou que o fim desse equilíbrio traria conflitos. O povo insistiu e Olorum deu o que pediam. A cidade se encheu de contrastes. Incapazes de dialogarem, as pessoas se separaram em tribos

Mãe África

Povo iorubá dominou grande parte do continente

Os iorubás seriam originários da região do alto Nilo. Por volta do século 6, estabeleceram-se na cidade de Ifé, na atual Nigéria. No século 15, eles eram um poderoso império, cujos domínios se espalharam pela África. Por causa disso, sua mitologia se propagou pelo continente e, mais tarde, chegou às Américas com as pessoas escravizadas. Assim, as comunidades que surgiram no Novo Mundo serviram de berçário para o nascimento de outras religiões, derivadas do iorubá. É o caso do nosso candomblé. Como o registro dos mitos era apenas oral, muitos sofreram alterações com o tempo. Hoje eles têm diferentes versões.

Fonte: Revista Super Interessante

C) CRIAÇÃO PARA O POVO INDÍGENA DESANA

Para o Desana, a humanidade inteira tem a mesma origem. Contam que no princípio, quando o mundo não existia, uma mulher conhecida como Yebá Buró, ou a Avó do Mundo, gerou cinco homens Trovões. Eles é que deveriam criar a futura humanidade, mas não conseguiram. Então ela criou o Bisneto do Mundo, Yebá Gõãmu, e depois seu irmão, Umukomahsu Boreka.

 Os dois irmãos e o Terceiro Trovão saíram para criar a futura humanidade e para isso levaram todas as riquezas que possuíam. O Terceiro Trovão se transformou em uma cobra grande e desceu até o fundo do Lago de Leite. Essa cobra, também chamada de Canoa de Transformação, tinha os dois irmãos como comandantes e se deslocava como um submarino.

Eles criaram casas em baixo d’água e em cada lugar que paravam faziam rituais com as riquezas que haviam levado. Estas riquezas se transformaram em gente. Depois disso, os irmãos criaram as línguas dos diferentes grupos que ainda hoje vivem na região do alto rio Negro.

Na volta, a Canoa de Transformação levou os humanos até uma cachoeira. Foi lá que eles pisaram na terra pela primeira vez.Yebá Gõãmu, o Bisneto do Mundo, não foi à terra, mas deu origem ao chefe dos Tukano, que foi o primeiro a descer da cobra-canoa. Depois foi Boreka, o chefe dos Desana, que desceu. O terceiro foi o chefe dos Pira-Tapuya, o quarto o dos Siriano, o quinto foi o chefe dos Baniwa e o sexto a sair foi o chefe dos Maku. O Bisneto do Mundo deu a todos eles alguns objetos e o poder de serem tranquilos, de fazerem grandes festas e de conviverem bem com muita gente.

O sétimo a sair foi o homem branco que tinha uma espingarda na mão. Yebá Gõãmu não lhe deu bens, mas disse que seria uma pessoa sem medo, que faria guerra para roubar a riqueza dos outros. O branco depois de dar um tiro com sua espingarda seguiu em direção ao sul para fazer guerra.

Fonte: Mirim.org

D) CRIAÇÃO PARA OS POVOS TUPI-GUARANI

Baseada em uma estrutura criada pelos jesuítas. O “tupi-guarani” é o termo genérico para um grupo de línguas indígenas da América do Sul. A mitologia dos povos que falavam o tupi-guarani não tinha uma hierarquia bem definida até o contato com os europeus. No processo de catequização empreendido pelos jesuítas, a ideia era primeiro conhecer seus mitos para depois modificá-los e criar paralelos com o cristianismo, o que facilitaria a conversão. Foi o que aconteceu com Tupã, que foi elevado pelos missionários à categoria de divindade principal por se assemelhar a valores cristãos. Outro exemplo é Jurupari, que era mais popular que Tupã antes dos jesuítas, mas que passou a ser visto como o chefe dos demônios e maus espíritos.

Nhanvecuruçu é a divindade mais antiga, existe desde antes da criação do Universo. Manifesta-se sob a forma de uma energia. Muitas vezes, ele e Tupã são representados como sendo a mesma entidade, pois possuem os mesmos arquétipos. Tupã, criador do Universo e deus do clima, se manifesta por meio do trovão. Ele criou a matéria a partir de duas almas, uma negativa e outra positiva. Então, desceu na região do monte Aregúa, no atual Paraguai, e criou tudo o que existe hoje. Jaci é a deusa da noite e da Lua. Algumas lendas a apontam como esposa de Tupã e também dizem que ela o ajudou na criação do Universo e dos homens. Jaci foi responsável por trazer a beleza para a Terra recém-criada. Iara é a protetora de todas as formas de vida aquáticas. Quando Tupã fez os rios, lagos e mares, criou Iara para protegê-los. Em grande parte das narrativas, ela aparece como uma sereia de cabelos verdes que vive no rio Amazonas. Em outras, como um espírito protetor presente em cada rio. Caaporã é o protetor de todas as formas de vida da Terra. Muitas vezes representado como Caipora ou Curupira, vive em todas as florestas protegendo os animais dos caçadores, a quem engana com barulhos e pistas erradas

Tupave (pai dos povos) e Sypave (mãe dos povos) foram os primeiros seres humanos. Tupã fez o homem a partir de uma estátua de barro e a mulher de uma combinação de vários elementos da natureza. Com o sopro de vida, Tupã os deixou com o bem e o mal dentro de cada um. Tupave e Sypave tiveram três filhos e várias filhas. Os filhos mais famosos de Tupave e Sypave são Tumé Arandatu, Jepeusá, Mangaratu e Porâzy. Tumé Arandatu era conhecido pela sabedoria. Jepeusá foi um ladrão que se matou e virou um caranguejo. Mangaratu era um líder generoso cuja filha, Kerana, foi sequestrada por um mau espírito e teve sete filhos amaldiçoados. Porâsy, então, se sacrificou para derrotar os sete monstros e salvar a sobrinha.

Fonte:  Revista Super Interessante

Mito de Origem


O mito de origem que vocês lerão agora é contado pelo povo indígena Jarawara, do Amazonas. Os Jarawara pertencem aos povos indígenas pouco conhecidos da região dos rios Juruá e Purus. Eles falam uma língua da família Arawá e habitam apenas a Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, que é constantemente invadida por pescadores e madeireiros. Para conhecê-los melhor, clique aqui.

Os Juma, inimigos míticos dos Jarawara, invadiram inesperadamente a aldeia e mataram todos para comer, pois eram canibais. Apenas uma jovem escapou e para não ser pega, colocou o seu sangue menstrual em uma flecha e em sua axila, e fingiu-se de morta. Um homem Juma, passando, reparou na beleza da menina e pensou consigo mesmo que se ela não estivesse morta, a levaria para ser sua esposa. Ele então percebeu que tinha esquecido a sua faca (feita de taboca) e gritou para um de seus companheiros trazê-la, o que ele não fez, pois estava muito ocupado cortando e carregando as inúmeras vítimas. Para verificar se a menina tinha realmente falecido, o Juma a bateu com um pau, escutou suas batidas cardíacas e colocou um pedaço de capim em suas narinas. A jovem não reagiu em nenhum momento.

 

Convencido, ele a cobriu de paus e foi buscar sua faca. Assim que ela ouviu os passos dele ao longe, jogou no mato os paus podres que a cobriam, saiu correndo e se escondeu dentro do buraco de um pássaro, em uma árvore. Ao retornar, o Juma foi incapaz de achá-la, e depois de um longo tempo a sua procura, resolveu ir embora. A jovem então saiu do buraco e foi andando pela floresta, onde encontrou dois animais mortos e forrados no pé de uma árvore, que ela então subiu. Um homem chegou carregando diversos macacos mortos, pois ele havia saído para caçar antes do massacre. Ela gritou lá de cima da árvore para chamar sua atenção, mas ele não quis olhar. Ela contou que os Juma tinham matado todo mundo, e só tinham sobrado eles dois.

 

Descendo da árvore, a jovem falou para o homem ir buscar a linha de algodão que ela havia tecido e a farinha branca (iawa) que estavam sobre sua rede. Chegando na aldeia, ele pegou a linha e a farinha e já de saída gritou: “tem alguém ai?”. Um Juma respondeu: “está faltando um”. Ele saiu correndo até onde estava a jovem e os dois continuaram andando na floresta. Ela fez duas redes com os fios de algodão e depois prepararam o jantar. A jovem casou-se com o homem e ambos ficaram morando escondidos dos Juma. Tiveram vários filhos, e quando estes cresceram, o pai explicou-lhes que eles deveriam se casar com suas próprias irmãs, o que eles fizeram. Todos tiveram muitos filhos e seu povo cresceu novamente.

Criacionismo e evolucionismo


Além dos cientistas, preocupados em responder questões relacionadas à origem dos seres humanos e do universo, povos de muitos lugares e épocas diferentes também se preocupavam em ter respostas. Assim, as primeiras explicações que surgiram foram os mitos. Mas o que são mitos?

Os mitos são narrativas que misturam personagens reais e imaginários, atribuem grande importância às forças da natureza e aos acontecimentos extraordinários. Muitas dessas histórias chegaram até nossos dias porque foram transmitidas oralmente, de geração a geração.

Se pararmos um tempinho para procurarmos no google, acharemos uma infinidade de mitos de criação. Eles variam conforme a cultura, a época. Na cultura ocidental, cristã, o mito de criação consolidado está descrito no livro canônico de gênesis.

Segundo o livro, Deus teria criado o mundo em 6 dias e descansado no sétimo. Antes, contudo, havia criado o homem e a mulher de terra moldada, Adão e Eva, cujas responsabilidades seriam de cuidar do Jardim do Éden. O livro de Gênesis relata o passo a passo da criação do mundo por Deus. (Ver a história aqui)

“No princípio criou Deus os céus e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro “
Gênesis 1:1-5 

Daí, surgem as discussões e debates acalorados. Muitos não aceitam a explicação religiosa e outros não aceitam as explicações científicas. Cada lado tentando desqualificar o outro. O que, na minha opinião, é infrutífero.

Podemos conviver com as diferentes teorias desde que, sem preconceito, tentemos compreender as visões de mundo que estão por trás de cada uma. Quem acredita na teoria criacionista não precisa abrir mão de sua fé, mas deve buscar conhecer a origem das histórias narradas por seus líderes religiosos. Certamente, irá descobrir que muitas delas, embora tratadas como “história real”, foram criadas para educar um povo, transmitir valores em uma época e um povo específico. Fato é que essas histórias chegaram até nós e cabe a todos nós procurar entender como foram elaboradas.

A origem do ser humano


Em posts anteriores, e em nossas aulas, conversamos sobre este assunto importante e polêmico. Temos estudado e lido textos que apontam para as explicações científicas sobre a origem do ser humano. E quando tratamos deste assunto sempre apontamos para a teoria da evolução, elaborada pelo inglês Charles Darwin, no século XIX.

Charles Darwin, cientista naturalista, em 1831, iniciou uma viagem científica de quase 5 anos, no navio HMS Beagle, que o conduziu a várias partes do mundo, e possibilitou coletar informações sobre a fauna, a flora e aspectos geológicos dos locais visitados. Estudou pássaros, peixes, tartarugas, plantas e fósseis reunindo dados para desenvolver suas pesquisas.

Após muitos anos de trabalho, analisando os dados coletados e objetos trazidos de suas viagens, Charles Darwin concluiu que, ao longo do tempo, as espécies podem se transformar de maneira a melhor se adaptar às mudanças do meio ambiente e terem mais chances de sobreviver. O lento processo de transformações dá origem a novas espécies.

Em 1859, publicou  o livro ” A origem das espécies por meio da seleção natural”, gerando grande debate público pelas ideias que continha. Na realidade, Darwin concluiu que há muitas semelhanças biológicas entre homens e macacos sugerindo a existência de antepassado comum. Mas como ele seria?! Até hoje a ciência não tem uma resposta definitiva para essa pergunta. A esse antepassado comum, chama de elo perdido.

Como podemos ver, a caricatura acima ( publicada na revista Hornet) retrata Darwin como um macaco. Ela revela o teor das críticas feitas à teoria proposta por Darwin, que colocava em questão as crenças de homens e mulheres da época, especialmente àquelas ligadas à criação divina. De modo prático, Darwin aproxima os seres humanos dos outros animais, retirando os seres humanos de um suposto local privilegiado.  Embora controversa, a teoria de Darwin nos ajuda a pensar sobre nossa origem, e ainda hoje mantém acesas as discussões e pesquisas sobre este tema.